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Buda

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Crônica da Cidade: Um dia Chuvoso no Rio de Janeiro


Não fosse essa minha fase escova, eu certamente andaria por ai aproveitando essa garoa para lavar minha alma. Não me adapto ao uso do guarda-chuva. Entretanto,  você não  quer me ver  por ai sem maquiagem e sem escova. Das coisas que me foram negadas, a beleza é certamente uma delas.
As pessoas circulam apressadas pelas calçadas da cidade. Não notam (nem se preocupam em notar) a presença uns dos outros. Apanho dos velozes zumbis em direção a estação terminal, Central do Brasil . Molho os apressados filhos de Ariel (pessoas dá classe media alta que pegam o metro por necessidade. Porque querem ganhar tempo, mas odeiam a presença dos pobres) com os pingos que caem do meu guada-chuva. Apanho dos guarda-chuvas que mais parecem tendas. Sou molhada pelos respingos dos guarda-chuvas apressados. A cidade se transforma em um enorme e molhado carnaval. Os carros alegóricos humanos desfilam indiscriminadamente. Bailam entre poças de lama e os cracudos miseráveis, que vagam sem alma e sem ajuda, pela cruel cidade Maravilhosa. O gás que é liberado do escapamento dos ônibus não diminui o insuportável cheiro de sarjeta que emana de todo canto. Embaixo das marquises: os camelôs, viciados, travestis e as putas  disputam lugar com a multidão. O som agudo que sai dos apitos dos guardas-municipais me remetem à Hiroshima. Não sei porque faço essa associação. Também não sei oque fazem os guardas-municipais. É tudo bem confuso!  E a cidade vira mar; um mar de gente, um mar de cores, um mar de energias diferentes. "Cinco pares de meias por 10 reais", esta escrito na placa ao lado das bugigangas que vendem os moradores de rua.
 Quero fugir, não é possível! Ali é o marco zero. Naquele misto de imundice, beleza e perigo: é coração deste lugar. 
Confesso que por vezes odeio, e até maldigo essa cidade. Sobretudo, nos dias em que passo horas no forjado engarrafamento da Zona Portuária, ou quando a Ponte Rio Niteroi faz a Av Brasil parar por horas a fio. 
Vejo beleza, apesar das tantas guardachuvadas que recebo na face. Por instante fico alheia a tudo. Percebo a cidade como uma grande tela. Sou uma expectadora solitária. Não pertenço aquele lugar, mas sou temporariamente  parte dele. Sou uma pequena e triste manivela desta engrenagem. Uma peça de reposição barata em dias dominados por guarda-chuvas!

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